sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

SOBRE OS DOGMAS

Texto extraido de um livro, como está em http://www.devilsfinalbattle.com/port/ch13.htm
Importante ler, para entender a grande batalha que se trava contra os dogmas da nossa Igreja Católica, e a luta do demônio para o Santo Padre se contradiga em matéria de fé. Abaixo se verá que a heresia do Arianismo teve origem em apenas uma letra, que mudou o sentido de uma palavra grega. Segue parte de um capítulo que fala sobre o terceiro segredo de Fátima, onde Nossa Senhora fala sobre o dogma em Portugal.
Olhemos então mais de perto a essência do Terceiro Segredo. Como o Cardeal Ratzinger admitiu há 18 anos - e note-se que foi antes de o Cardeal Sodano ter instituído a Linha do Partido sobre Fátima -, o Terceiro Segredo diz respeito, em primeiro lugar, aos perigos contra a Fé. É São João quem nos diz o que é que vence o Mundo: diz Ele que é a nossa Fé. Portanto, para que o Mundo pudesse derrotar a Igreja, teria primeiro que derrotar a nossa Fé como Católicos.
Logo, a essência do Terceiro Segredo ocupa-se da tentativa do Mundo em derrotar a Nossa Fé Católica. Como demonstrámos abundantemente nos capítulos anteriores, as forças do Mundo têm vindo a travar uma grande batalha contra a Fé Católica a partir de 1960. Mas o que acontece é que, simplesmente, não há qualquer debate sobre isto com base nas evidências esmagadoras que nós apenas esboçámos aqui.
Observando ainda em mais pormenor: o Segredo diz respeito ao dogma da Fé. Nossa Senhora de Fátima disse que o dogma da Fé se conservaria sempre em Portugal - e não simplesmente “a Fé”. Porque terá Nossa Senhora frisado este dogma católico? Sem dúvida a Senhora assim o disse porque o Segredo é uma profecia sobre o facto de o dogma católico da Fé ser, especificamente, o alvo daqueles que atacariam a Igreja, tanto a partir do seu interior como de fora. Ora já Nosso Senhor nos avisava nas Sagradas Escrituras: «Surgirão falsos messias e falsos profetas que farão sinais e prodígios, a fim de enganarem, se possível, até os eleitos» (Mc. 13:22). E como já demonstrou a crise ariana, estes falsos profetas podem até ser Sacerdotes e Bispos. Passamos a citar aqui a conhecida descrição do Cardeal Newman dessa era da História da Igreja: «Os relativamente poucos que permaneceram fiéis foram desacreditados e afastados para o exílio; os demais, ou vinham enganar ou vinham enganados». Em tempos de crise como estes, os Católicos têm de se agarrar aos dogmas da Fé.
- O que é um dogma? Dogma é aquilo que foi infalivelmente definido pela Igreja - e no qual os Católicos têm de acreditar para serem Católicos. Os dogmas da Fé estão contidos nas definições infalíveis e solenes do Magistério - nomeadamente, quando o Papa, em Pessoa, se pronuncia de uma maneira que obriga claramente a Igreja Universal a acreditar naquilo que Ele está a decretar; ou quando um Concílio Ecuménico de todos os Bispos Católicos, é presidido pelo Papa que promulga tais pronunciamentos obrigatórios; ou, ainda, tudo aquilo que é ensinado pelo Magistério Universal e Ordinário da Igreja.
- Que quer dizer uma definição dogmática infalível? A palavra infalível significa «que não pode falhar». Logo, as definições da Fé, solenemente definidas pela Igreja, não podem falhar. É por meio das definições infalíveis que nós sabemos o que é a Fé e o que são os dogmas da Fé. Se acreditarmos e se nos agarrarmos a estas definições infalíveis, então não podemos ser enganados em assuntos deste modo definidos.
- Como sabemos que um assunto foi definido infalivelmente como um artigo da Fé Católica? Sabemo-lo pelo modo como tal ensinamento é apresentado.
Quatro fontes de ensino infalível
Há quatro modos principais segundo os quais o ensino da Igreja nos é apresentado de modo infalível:
Primeiro, por meio da promulgação, pelos Papas e pelos Concílios Ecuménicos, de credos que fornecem um resumo daquilo em que os Católicos devem crer para serem Católicos.
Segundo, por meio de definições solenes que contêm frases como «Nós declaramos, pronunciamos e definimos (…)» ou alguma fórmula semelhante que indica que o Papa ou o Papa em conjunto com um Concílio Ecuménico têm claramente a intenção de impor à Igreja que creia nesse ensinamento. Tais definições são geralmente acompanhadas por anátemas (condenações) daqueles que, de qualquer modo, negarem o ensinamento assim definido.
Terceiro, as definições do Magistério Ordinário e Universal - ou seja, o ensino constante da Igreja de um modo “ordinário”, desde sempre e em qualquer parte do mundo -, mesmo se esse ensinamento não foi solenemente definido pelas palavras «Declaramos, pronunciamos, e definimos (…)» (Um bom exemplo é o ensino constante da Igreja, ao longo da Sua história, de que a contracepção e o aborto são gravemente imorais).
Quarto, há julgamentos definitivos do Papa - geralmente sobre proposições condenadas, nas quais é proibido a um Católico acreditar. Quando um Papa, ou um Papa em conjunto com um Concílio, condenam solenemente uma proposição, é possível saber-se, infalivelmente, que ela é contrária à Fé Católica.
Um exemplo de um Credo é a Profissão de Fé promulgada pela Concílio de Trento. Apresentamo-lo aqui, convenientemente arranjado em forma de pontos e sem alteração na linguagem:


* Eu N. creio firmemente e confesso tudo o que contém o Símbolo da fé usado pela Santa Igreja Romana, a saber:



* Creio em um só Deus, Pai Onipotente, Criador do céu e da terra e de tôdas as coisas, visíveis e invisíveis. E em



* um só Senhor Jesus Cristo, Filho Unigênito de Deus, nascido do Pai antes de todos os séculos; é Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro do Deus verdadeiro; é gerado, não feito; consubstancial ao Pai, por quem foram feitas tôdas as coisas.



* O qual, por amor de nós homens e pela nossa salvação, desceu dos céus. E se encarnou por obra do Espírito Santo no seio da Virgem Maria, e se fêz homem.



* Foi também crucificado por nossa causa; padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos e foi sepultado. E



* ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras. E subiu ao céu,



* está sentado à mão direita de Deus Pai. E pela segunda vez há de vir com majestade a julgar os vivos e os mortos. E o seu reino não terá fim.



* E [creio] no Espírito Santo, [que também é] Senhor e Vivificador, o qual procede do Pai e do Filho. O qual, com o Pai e o Filho, é juntamente adorado e glorificado, e foi quem falou pelos profetas.



* E [creio] na Igreja, que é una, santa, católica e apostólica.



* Confesso um só Batismo para remissão dos pecados. E aguardo a ressurreição dos mortos e a vida da eternidade. Assim seja.



* Aceito e abraço firmemente as tradições apostólicas e eclesiásticas, bem como as demais observâncias e constituições da mesma Igreja.



* Admito também a Sagrada Escritura naquele sentido em que é interpretada pela Santa Madre Igreja, a quem pertence julgar sôbre o verdadeiro sentido e interpretação das Sagradas Escrituras. E jamais aceitá-la-ei e interpretá-la-ei senão conforme o consenso unânime dos Padres.



* Confesso também que são sete os verdadeiros e próprios sacramentos da Nova Lei, instituídos por Nosso Senhor Jesus Cristo, embora nem todos para cada um necessários, porém para a salvação do gênero humano.



* São êles: Baptismo, Confirmação, Eucaristia, Penitência, Extrema-Unção, Ordem e Matrimônio, os quais conferem a graça; mas não sem sacrilégio se fará a reiteração do Baptismo, da Confirmação e da Ordem.



* Da mesma forma aceito e admito os ritos da Igreja Católica recebidos e aprovados para a administração solene dos todos os supracitados sacramentos.



* Abraço e recebo tudo o que foi definido e declarado no Concílio Tridentino sôbre o pecado original e a justificação.



* Confesso outrossim que na Missa se oferece a Deus um sacrifício verdadeiro, próprio e propiciatório pelos vivos e defuntos, e que no santo sacramento da Eucaristia estão verdadeira, real e substancialmente o Corpo e o Sangue com a alma e a divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo, operando-se a conversão de tôda a substância do pão no corpo, e de tôda a substância do vinho no sangue; conversão esta chamada pela Igreja transubstanciação.



* Confesso também que sob uma só espécie se recebe o Cristo todo inteiro e como verdadeiro sacramento.



* Sustento sempre que há um purgatório, e que as almas aí retidas podem ser socorridas pelos sufrágios dos fiéis;



* Que os Santos, que reinam com Cristo, também devem ser invocados; que êles oferecem suas orações por nós, e que suas relíquias devem ser veneradas.



* Firmemente declaro que se devem ter e conservar as imagens de Cristo, da sempre Virgem Mãe de Deus, como também as dos outros Santos, e a êles se deve honra e vereração.



* Sustento que o poder de conceder indulgências foi deixado por Cristo à Igreja, e que o seu uso é muito salutar para os fiéis cristãos.



* Reconheço a Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana, como Mestra e Mãe de tôdas as Igrejas.



* Prometo e juro prestar verdadeira obediência ao Romano Pontífice, Sucessor de S. Pedro, Príncipe dos Apóstolos e Vigário de Jesus Cristo.



* Da mesma forma aceito e confesso indubitàvelmente tudo o mais que foi determinado, definido e declarado pelos sagrados cânones, pelos Concílios Ecumênicos, especialmente pelo santo Concílio Tridentino (e pelo Concílio Ecumênico do Vaticano, principalmente no que se refere ao Primado do Romano Pontífice e ao Magistério infalível9)



* Condeno ao mesmo tempo, rejeito e anatematizo as doutrinas contrárias e tôdas as heresias condenadas, rejeitadas e anatematizadas pela Igreja.



* Eu mesmo, N., prometo e juro como o auxilio de Deus conservar e professar integra e imaculada até ao fim de minha vida esta verdadeira fé católica, fora da qual não pode haver salvação, e que agora livremente professo. E quanto em mim estiver, cuidarei que seja mantida, ensinada e pregada a meus súbditos ou àqueles, cujo cuidado por ofício me foi confiado. Que para isto me ajudem Deus e êstes santos Evangelhos!


Com respeito às definições solenes e infalíveis do dogma Católico, um exemplo recente é a Carta Apostólica do Bem-aventurado Papa Pio IX, Ineffabilis Deus (1854), onde se define infalivelmente o Dogma da Imaculada Conceição de Maria:


Declaramos, pronunciamos e definimos: A doutrina que sustenta que a beatíssima Virgem Maria, no primeiro instante da sua Conceição, por singular graça e privilégio de Deus onipotente, em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano, foi preservada imune de tôda a mancha de pecado original, essa doutrina foi revelada por Deus, e por isto deve ser crida firme e inviolàvelmente por todos os fiéis.
Portanto, se alguém (que Deus não permita!) deliberadamente entende pensar diversamente de quanto por Nós foi definido, conheça e saiba que está condenado pelo seu próprio juizo, que naufragou na fé, que se separou da unidade da Igreja, e que, além disso, incorreu por si, “ipso facto”, nas penas estabelecidas pelas leis contra aquêle que ousa manifestar oralmente ou por escrito, ou de qualquer outro modo externo, os erros que pensa no seu coração. (ênfase acrescentada)


Neste ponto, lembremo-nos que o Cardeal Ratzinger, em AMF, fez ruir estrondosamente este dogma - e a Mensagem de Fátima - por ter ousado afirmar que «O “coração imaculado” é, segundo o evangelho de Mateus (5, 8), um coração que a partir de Deus chegou a uma perfeita unidade interior e, consequentemente, “vê a Deus”». Não, não e não! O Coração Imaculado não é “um” coração, mas antes o coração - só esse e o único Coração - da Santíssima Virgem Maria, o único simples ser humano Que foi concebido sem Pecado Original e Que nunca sequer cometeu o mais leve pecado pessoal ao longo da Sua vida gloriosa nesta terra.
Finalmente, há a proposição condenada - de que é um exemplo acabado o Syllabus de Erros do Bem-aventurado Pio IX, onde este grande Papa enumerou os muitos erros do liberalismo na forma de proposições que ele, solene, definitiva e infalivelmente condenou como erros contra a Fé10, inclusive a proposição nº 80 (que já anteriormente mencionámos): «O pontífice romano pode e deve reconciliar-se e conformar-se com o progresso, com o liberalismo e com a moderna civilisação».
Como mostrámos, também aqui o Cardeal Ratzinger tentou enfraquecer insidiosamente o ensino anterior da Igreja, ao dizer que o ensino do Concílio Vaticano II era um “contra-Syllabus”, ou seja: «uma tentativa de uma reconciliação oficial com a nova era inaugurada em 1789» e um esforço para corrigir aquilo que ele teve a ousadia de chamar «a unilateralidade da posição adoptada pela Igreja sob o reinado do Bem-aventurado Pio IX e de São Pio X, em resposta à situação criada pela nova época da História inaugurada pela Revolução Francesa ...»11. Para tornar ainda mais explicita a sua rejeição do ensino infalível e solene do Bem-aventurado Papa Pio IX, o Cardeal Ratzinger afirma que, no Concílio Vaticano II, «a atitude de reserva crítica em relação às forças que têm deixado a sua “chancela” no Mundo moderno deve ser substituída por uma plataforma de acordo em relação a esses movimentos»12 - opinião que contradiz radicalmente o ensino do Bem-aventurado Papa Pio IX, de que a Igreja não deve «conformar-se com o progresso, com o liberalismo e com a moderna civilização».
O Cardeal Ratzinger, no seu uso ultrajante e abusivo do dogma da Imaculada Conceição bem como na sua arrogante rejeição do Syllabus, que considera “unilateral”, evidencia o próprio âmago da crise pós-conciliar na Igreja: o ataque às definições infalíveis do Magistério.
Ora, na maioria dos casos, este ataque foi apenas indirecto. No geral, a definição infalível não é directamente negada, mas antes minada por meio da crítica ou da “revisão”. Os inovadores da Igreja não são tão estúpidos que afirmem, pura e simplesmente, que um ensino infalível da Igreja está errado. E até pode acontecer que, na sua suposta “iluminação”, estes inovadores possam pensar, inclusivamente, que estão “a aprofundar” ou “a desenvolver” o ensino Católico para o bem da Igreja - note-se que não estamos a julgar as suas motivações subjectivas. Mas o efeito daquilo que fazem é óbvio: a derrocada, pelos alicerces, dos ensinamentos definidos infalivelmente pelo Magistério.
Outro exemplo deste enfraquecimento insidioso é o ataque ao dogma de que fora da Igreja Católica não há salvação. O Credo Tridentino, acima citado em toda a sua inteireza, afirma: «Eu prometo conservar e professar esta verdadeira fé católica, fora da qual não pode haver salvação (…)» No Capítulo 6 mostrámos como, muitas e muitas vezes, o Magistério definiu solenemente este dogma: de que fora da Igreja Católica não há salvação. Pois apesar disso, este dogma é hoje negado e constantemente minado por um “ecumenismo” que afirma que nem os hereges Protestantes nem os Ortodoxos cismáticos precisam de regressar à Igreja Católica, porque isso não passa de uma “eclesiologia antiquada”13. E em muitos lugares, o dogma é hoje directamente negado, enquanto noutros, se não o é directamente, desmorona-se na prática devido a ataques indirectos, repetidos e insidiosos - daí resultando que, em tais lugares, já não acreditam nem seguem o dogma [de que fora da Igreja Católica não há salvação].
É inegável que, a partir do Concílio Vaticano II, uma multidão de noções singulares e estranhas foram introduzidas na Igreja como “desenvolvimento” da Doutrina Católica, mesmo que tais inovações - pelo menos implícita e às vezes explicitamente - contradissessem e minassem as definições infalíveis. Por exemplo, a ideia de que o documento conciliar Gaudium et Spes é um “contra-Syllabus” que se opõe às condenações solenes do Bem-aventurado Pio IX14 faz ruir toda a integridade do Magistério infalível. Tal afirmação é um ataque à própria credibilidade do oficio docente da Igreja; portanto é, afinal, um ataque ao dogma católico em si.
Não pode haver
“um novo entendimento” do Dogma Católico
Este ataque pós-conciliar contra o dogma, quer corrompendo-o quer opondo-se-lhe por uma contradição implícita, não pode ser justificado como um “desenvolvimento” ou um “novo entendimento” do dogma. Como o Concílio Vaticano I solenemente ensinou: «Assim, o Espírito Santo não foi prometido aos sucessores de Pedro para que eles pudessem revelar uma nova doutrina, mas antes para que, com o Seu auxílio, pudessem guardar de modo sagrado a revelação transmitida pelos Apóstolos e o depósito da Fé, e para que os pudessem fielmente perpetuar ao longo dos tempos»15.
Além disto, e segundo o Concílio Vaticano I solenemente ensinou, não pode haver nenhum “novo entendimento” daquilo que a Igreja já definira infalivelmente:


[S]empre se deve ter por verdadeiro sentido dos dogmas aquêle que a Santa Madre Igreja uma vez tenha declarado, não sendo jamais permitido, nem a título de uma inteligência mais elevada, afastar-se dêste sentido.16


Logo, é um princípio da Fé Católica, no qual acreditamos, que nenhuma nova doutrina foi revelada por Deus desde a morte do último Apóstolo, São João; e que não emergiu nenhum entendimento novo da doutrina, nem devido ao Concílio Vaticano II nem a qualquer outro motivo.
Portanto, esta doutrina “nova” ou “contra”-doutrina de que tanto ouvimos falar desde o Concílio Vaticano II pode não passar de uma pseudo-doutrina - que tem vindo a ser ensinada de um modo muito subtil: quando esta pseudo-doutrina contradiz as doutrinas que foram infalivelmente definidas, então os Católicos devem manter-se fiéis às doutrinas infaliveis e rejeitar as “novas”.
O dogma da Fé não pode falhar, mas as inovações podem falhar-nos. Os homens podem falhar; os leigos podem falhar; os Sacerdotes podem falhar; os Bispos podem falhar; os Cardeais podem falhar; e até o Papa pode falhar em assuntos que não envolvam o Seu carisma de infalibilidade - tal como a História nos demonstra com mais do que um Papa que ensinou, ou pareceu ensinar, alguma inovação.
Por exemplo, - O Papa Honório foi postumamente condenado pelo Terceiro Concílio de Constantinopla, no ano 680, por ser auxiliar e cúmplice de heresia17, condenação essa que foi aprovada pelo Papa Leão II e reiterada por Papas subsequentes. - No Século XIV (1333), o Papa João XXII proferiu homilias - não definições solenes - em que insistia que as bem-aventuradas almas dos defuntos não gozam da Visão Beatífica antes do dia do Juízo Final. Por causa disto foi denunciado e corrigido por teólogos até que, por fim, retractou a sua opinião herética já no leito de morte.
Neste último caso17a, os Católicos bem informados dessa época (que eram os teólogos) sabiam que João XXII estava enganado no seu ensino sobre o Juízo Particular. Sabiam que havia algo de errado no ensinamento de João XXII, por contradizer aquilo em que a Igreja tinha sempre acreditado - mesmo que, a essa altura, ainda não fosse uma definição infalível. Então, os Católicos que no Século XIV conheciam a sua Fé, não se ficaram a dizer simplesmente: «Ora bem, o Papa fez esta homilia a dizer isto… portanto, nós devemos mudar aquilo em que acreditamos». Olhando ao ensino constante da Igreja de que os defuntos, falecidos na bem-aventurança, gozam da Visão Beatífica imediatamente a seguir ao Purgatório, os teólogos sabiam que João XXII estava enganado - e disseram-Lho.
E aconteceu que, com o passar do tempo, o carácter imediato da Visão Beatífica foi solene e infalivelmente definido em 1336, pelo sucessor de João XXII, o que arrumou o assunto e o pôs acima de todo e qualquer debate ulterior - ora é precisamente para isso que uma definição infalível foi necessária. O mesmo se pode dizer em relação a todos os outros assuntos infalivelmente definidos pela Igreja. Podemos, e devemos, confiar nestas definições infalíveis com absoluta certeza, e rejeitar todas as opiniões em contrário - mesmo se as opiniões contrárias vierem de um Cardeal ou até de um Papa.
Há outros exemplos de Papas que falham. Até São Pedro, o primeiro Papa, errou, como mostram as Sagradas Escrituras - não por aquilo que disse, mas pelo exemplo que deu: cerca do ano 50, em Antioquia, S. Pedro recusou sentar-se à mesa com gentios convertidos. Por se ter afastado destes convertidos, deu a falsa impressão de que o Primeiro Concílio de Jerusalém errava no seu ensino infalível de que não se aplicava à Igreja Católica a lei cerimonial moisaica (que proibia os Judeus de comerem com os gentios “imundos”). Foi por causa deste incidente que São Paulo repreendeu São Pedro, cara a cara e em publico. (Gal. 2:11).
Outro exemplo é o do Papa Libério que, em 357, errou ao assinar um Credo que lhe fora proposto pelos Arianos e que omitia qualquer referência ao facto de o Filho ser consubstancial ao Pai. Resta esclarecer que o Papa Libério consentiu nisto depois de sofrer dois anos no exílio, e sob ameaça de morte. Falhou também (sob prisão e no exílio) ao condenar e excomungar erradamente - na realidade, dando só a aparência de excomungar - Santo Atanásio, que defendia a Fé neste assunto. Libério, o primeiro Papa a não ser proclamado santo pela Igreja, errou, porque Atanásio ensinava a Doutrina Católica - a verdadeira e infalível doutrina - ensinada infalivelmente pelo Concílio de Niceia no ano de 325 d.C. E era essa definição infalível - não o ensino erróneo do Papa Libério - que tinha de ser seguido naquele caso.
Destes exemplos da História da Igreja aprendemos que tudo quanto nos é proposto para a nossa Fé tem de ser julgado por aquelas definições. Logo, se um Cardeal, um Bispo, um Sacerdote, um leigo ou até o Papa nos ensinar alguma inovação que seja contraria a alguma definição da Fé, é certo e sabido que esse ensino é errado e deve ser rejeitado em prol da salvação das nossas almas imortais. Sim, até o Papa pode errar; e de facto erra, se expressa uma opinião contrária a uma definição solene e infalível da Igreja Católica. Mas isso não significa que a Igreja erra, quando tal acontece; apenas que o Papa se enganou - sem que tal falha se imponha à Igreja inteira. Claro que, se até o Papa pode errar ao ensinar alguma inovação, também decerto os Cardeais, Bispos e Sacerdotes podem errar no seu ensino e nas suas opiniões.
Logo, quando Nossa Senhora fala sobre o “dogma da Fé”, indica-nos que o perigo contra a Fé - e para «a vida do Cristão e, consequentemente, [para a vida] do mundo», para evocar a afirmação do Cardeal Ratzinger - se erguerá quando são ‘falsificadas’ ou corrompidas as definições dogmáticas e solenes da Fé Católica; é que são essas definições que formam as próprias fundações da Fé Católica e, consequentemente, o fundamento da nossa salvação, para evocar a homilia do Papa, em Fátima, em 1982.
À objecção de que simples Sacerdotes, ou simples leigos, não podem discordar de altos prelados como o Cardeal Ratzinger, ou até mesmo (aquando de casos extraordinários, de que já demos exemplos) do Papa, deve responder-se: -É para isto mesmo que a Igreja tem as definições infalíveis. É medindo todo e qualquer ensinamento pela bitola das definições solenes e infalíveis da Igreja que é possível saber se esse ensinamento é verdadeiro ou falso - e não pelo cargo eclesiástico da pessoa que o emitiu. Como São Paulo ensinou: «Mas ainda que alguém - nós mesmos ou um anjo do Céu - vos anuncie outro Evangelho, além daquele que vos tenho anunciado, esse seja anátema.» (Gal.1:8) Note-se que os Fiéis têm de considerar anátema - ou seja, maldito, afastado da Igreja, merecedor do fogo do Inferno - mesmo que seja um Apóstolo, se ele contradisser o ensino infalível da Igreja. Por isso é que os teólogos tinham o poder de [no século XIV] corrigir o Papa João XXII no seu erróneo ensino do púlpito; e é por isso também que os Católicos de hoje podem apontar, distinguindo, o ensino correcto e o errado, mesmo tendo, na Hierarquia, um lugar inferior ao do prelado que está a cometer o erro.
Um bom exemplo histórico disto mesmo encontra-se no caso de um advogado chamado Eusébio, que fez notar que Nestório - ilustre Arcebispo de Constantinopla e o mais alto prelado logo abaixo do Papa - estava errado quando negou que a Santíssima Virgem é a Mãe de Deus. Naquele dia de Natal, durante a Santa Missa, Eusébio pôs-se de pé no seu banco na Igreja e denunciou Nestório por pregar uma heresia - a despeito de todos os Sacerdotes e Bispos (hierarquicamente superiores) terem ficado calados em face dessa mesma heresia. Portanto, era um simples leigo quem tinha razão, enquanto todos os outros não a tinham. O Concílio de Éfeso foi chamado a ouvir o assunto, e assim foi infalível e solenemente definido que a Santíssima Virgem é a Mãe de Deus. E uma vez que Nestório se recusou a abjurar, foi deposto e declarado herege. Nestório foi, pois, excomungado!
Em resumo: a verdade não é assunto que deva ser confirmado por uma maioria democrática ou pela (alta) posição social de quem afirma tal coisa; a verdade é aquilo que Cristo e Deus-Pai revelaram nas Sagradas Escrituras e na Tradição, aquilo que foi solenemente definido pela Igreja Católica, e que a Igreja Católica sempre ensinou - sempre, e não apenas a partir de 1965!
Os efeitos desastrosos
de interferir nas definições infalíveis
A História também nos fornece um caso exemplar sobre o que pode acontecer à Igreja quando um só dogma é contradito numa larga escala. A heresia do Arianismo causou uma confusão catastrófica na Igreja, de 336 a 381 d.C. Já no ano de 325 o Arianismo tinha sido condenado; apesar disso, reergueu-se em 336 - e foi a partir dessa data que a heresia ganhou para si cerca de 90% dos Bispos, até que acabou por ser derrotada cerca de cinquenta anos mais tarde. Na confusão e perda da Fé resultantes, até o grande Santo Atanásio foi “excomungado” pelo Papa, em 357. Por 381, o Arianismo fora vencido pelo Primeiro Concílio de Constantinopla. Todavia, estava ainda florescente entre 360 e 380; e os resultados foram profundamente assoladores para a Igreja.
Mas a Crise Ariana tem mais para nos ensinar sobre o provável conteúdo do texto que falta no Terceiro Segredo. Uma razão por que os Arianos foram capazes de ser bem sucedidos por algum tempo, foi terem atacado “com sucesso” um dogma que tinha sido solene e infalivelmente definido no Concílio de Niceia, em 325 - o dogma de que Cristo é Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro; gerado, não criado, consubstancial ao Pai. Esta definição solene e infalível está no Credo do Concílio de Niceia, que dizemos cada Domingo na Santa Missa.
Os Arianos alteraram a definição conseguindo que muitos dos “fiéis” fizessem pressão para que ela fosse substituída por uma definição falsa, que não era infalível. Em 336, eles substituíram a palavra grega Homoousion por outra palavra Homoiousion. A primeira, Homoousion, significa basicamente “consubstancial” ao Pai. Ora, para Deus-Filho ser consubstancial ao Pai, o Filho tem de ser não só Deus mas o mesmo único Deus com o Pai, de tal modo que a substância do Pai é a substância do Filho - mesmo que a Pessoa do Pai não seja a Pessoa do Filho. Portanto, há três Pessoas em um só Deus - Pai, Filho, e Espirito Santo -, mas há um só Deus, com uma só substância, em três Pessoas distintas. Isto é o Mistério da Santíssima Trindade. A palavra nova Homoiousion, todavia, significa “de substância semelhante” à do Pai. Logo, a frase crítica neste dogma - “consubstancial ao Pai” - foi mudada para “de substância semelhante à do Pai” ou “à semelhança do Pai”.
Assim, os Arianos provocaram uma confusão total na Igreja por acrescentarem uma só letra à palavra Homoousion, criando uma palavra nova com uma significação nova: Homoiousion. Atacaram uma definição solene, afirmando que a sua definição nova era melhor que a definição solene - o que era impossível: a definição nova não podia ser melhor que a definição solene, porque a declaração solene do Concílio de Niceia era infalivel.
Acrescentando uma só letra a uma só palavra, os Arianos suprimiram uma definição infalivel. Isto abriu caminho aos Arianos e semi-Arianos, levando-os a um verdadeiro estado de guerra. Houve pessoas martirizadas, perseguidas, levadas para o deserto, afastadas para o exílio - por causa desta única mudança a um único dogma infalível. Santo Atanásio foi, por cinco vezes, afastado para o exílio pelo Sínodo do Egipto (tendo, por isso, passado mais de 17 anos no exílio). Mas era ele quem tinha razão; e os Bispos heréticos desse Sínodo estavam, todos eles, errados.
As definições infalíveis estão acima
de quaisquer estudos ou de qualquer
cargo da Hierarquia da Igreja
-Como sabia Atanásio que tinha razão? Sabia-o, porque se agarrou firmemente à definição infalível, sem se importar com o que pudessem dizer as outras pessoas. Nem todo o estudo do mundo nem os altos cargos podem sobrepor-se à verdade de um único ensinamento católico infalivelmente definido. Até o mais humilde dos Fiéis, ancorado a uma definição infalível, terá mais sabedoria que o teólogo mais “ilustrado” que a negue ou a corrompa. Este é todo o propósito do ensino da Igreja infalivelmente definido para nos tornar independentes das opiniões de simples homens, por mais estudiosos que sejam, por mais elevados que sejam os cargos que ocupam.
Ora, em 325, a definição solene do Concílio de Niceia foi infalível; mas, nessa altura, muita gente não se deu plenamente conta de que as definições solenes da Fé o eram - isto porque, nessa era na História da Igreja, ainda não tinha sido promulgada a definição do ensino solene da Igreja: que as definições solenes e definitivas da Fé são infalíveis. Seria em 1870 que o Concílio Vaticano I definiu, solene e infalivelmente, a infalibilidade das definições solenes da Igreja. Nós agora sabemos, infalivelmente, que as definições solenes são infalíveis. E, repetimos, elas não podem falhar - nunca.
As definições infalíveis
estão a ser atacadas no nosso tempo
Logo, no nosso tempo não há qualquer desculpa nem para sermos seduzidos pela heresia nem para deixarmos de defender as definições solenes. No entanto, é precisamente isso que acontece hoje, tal como aconteceu no tempo de Ário. Há eclesiásticos que julgam as coisas à luz do Concílio Vaticano II, em vez de julgarem o Concílio Vaticano II à luz das definições infalíveis. Esqueceram-se que são as definições infalíveis - não o Concílio Vaticano II - os padrões inalteráveis pelos quais se medem todas as doutrinas, assim como o metro-padrão de cem centímetros é a medida imutável para calcular um metro, sendo óbvio que não se pode decidir de repente que o novo padrão para medir um metro é uma barra com 95 centímetros. Semelhantemente, a Igreja não pode decidir de um dia para o outro que o Concílio Vaticano II é a nova medida-padrão da Fé.
E assim, depois de um exame mais pormenorizado, chegamos de novo ao âmago do Terceiro Segredo. É por esta razão que ele começa com a referência de Nossa Senhora ao dogma da Fé. É por esta razão que a Irmã Lúcia disse que o Terceiro Segredo seria “mais claro” depois de 1960. E aqui devemos fazer notar que, indubitavelmente, estamos a viver no meio do período de calamidade que o Terceiro Segredo vaticina. -Como sabemos que assim é? Porque a Virgem Maria nos disse que o Segredo seria “mais claro” a partir de 1960 e ainda que por fim o Seu Imaculado Coração triunfará. Visto que o Triunfo do Coração Imaculado de Maria (obviamente) ainda não chegou, temos que estar a viver no período intermédio entre 1960 e aquele Triunfo final - ou seja, o período delineado pela profecia do Terceiro Segredo.
Ora o que temos visto a partir do Concílio Vaticano II é, repare-se, um ataque - um ataque indirecto e muito subtil - contra as definições solenes da Igreja. Foi um Concílio pretensamente pastoral que se recusou a pronunciar-se com definições solenes e que - aos olhos de algumas pessoas - foi efectivamente contra certas definições solenes. Como vimos, era por isso que o Concílio desejava ser “pastoral”: para evitar definições solenes, e para evitar condenações do erro, tal como o Papa João XXIII declarou na sua alocução de abertura.
Pois sim, mas que mal tem isso? O mal está em que, através do subtil erro em recusar fazer definições solenes, fica aberta uma porta para o uso de uma linguagem com a qual o Concílio poderia minar definições solenes já existentes - artifício utilizado precisamente pelos Arianos no Século IV, para incitar a confusão na Igreja. E eles quase conseguiram derrotar a Igreja inteira.
Ora foi este mesmo processo que foi novamente posto em prática, a partir da abertura do Concílio Vaticano II. Mas os Fiéis têm uma solução para este problema: não sendo o Concílio Vaticano II autoritário - no sentido em que não exerceu o Seu Magistério supremo -, não exerceu, portanto, o Seu poder nem de definir doutrina nem de anatematizar o erro. Uma vez que não exerceu, pois, essa autoridade, tudo o que foi ensinado pelo Vaticano II - e que não fora ensinado infalivelmente antes do Concílio - tem de ser examinado à luz das definições dogmáticas infalíveis e dos ensinamentos da Igreja Católica.
Todavia, não é isso que acontece hoje. O que hoje acontece é que se está a redefinir “a Fé” à luz do Vaticano II. É certamente deste processo que fala Nossa Senhora de Fátima quando, indo directamente ao coração do assunto, diz que o dogma da Fé se conservará sempre em Portugal - mas se perderá claramente em muitos outros lugares -, recomenda à Irmã Lúcia que esta Sua advertência deve tornar-se conhecida por volta de 1960, quando o Concílio já tinha sido anunciado.
Esta conclusão é confirmada pelas homilias do Papa em Fátima, em 1982 e em 2000: em 1982, o Santo Padre disse que as bases da nossa salvação tinham vindo a ser minadas; e em 2000, na Sua homilia proferida durante a beatificação dos Bem-aventurados Jacinta e Francisco, o Papa João Paulo II advertiu-nos sobre os perigos para a nossa salvação hoje, ao dizer que «A mensagem de Fátima é um apelo à conversão, alertando a humanidade para não fazer o jogo do ‘dragão’ cuja ‘cauda arrastou um terço das estrelas do Céu e lançou-as sobre a terra’» (Apoc. 12:4). E - vejamos de novo -, onde é que encontramos isto nos excertos já revelados da Mensagem de Fátima? Em parte nenhuma. Portanto, tem de estar no Terceiro Segredo. O Papa vem dizer-nos que o Terceiro Segredo trata dos perigos contra a Fé e que um terço do Clero católico está envolvido nisso.
O ataque parte do interior da Igreja
Focaremos agora mais um pormenor da essência do Terceiro Segredo. O Papa também fez notar que o ataque contra a Fé Católica vem do interior [da Igreja]. Disse-o em 1982:
«Poderá a Mãe, que deseja a salvação de todos os homens, com toda a força do seu amor que alimenta no Espírito Santo, poderá Ela ficar calada acerca daquilo que mina as próprias bases desta salvação?» O verbo minar implica o enfraquecimento dos alicerces da nossa salvação a partir do interior. Um inimigo de fora da Igreja ataca do exterior; mas um inimigo infiltrado atacará a partir do Seu interior. No segundo caso, o ataque é inesperado e sem sobressaltos de ninguém; e o atacante é visto como se fosse um “amigo”.
Portanto, é o Papa João Paulo II quem nos diz que a Fé Católica está a ser minada a partir do seu interior (13 de Maio de 1982: «daquilo que mina as próprias bases dessa salvação») e pelo Clero Católico (13 de Maio de 2000: «um terço das estrelas do Céu»).
Concluimos este ponto chamando a atenção para o facto de ainda haver mais uma fonte da qual podemos inferir este aspecto do Terceiro Segredo. Em 1963, a publicação alemã Neues Europa divulgou algo que parecia ser uma parte do Terceiro Segredo: que estaria Cardeal contra Cardeal, Bispo contra Bispo. Sabemos isto porque, quando foi inquirido se o relato da Neues Europa deveria ou não ser publicado, o Cardeal Ottaviani, que também tinha lido o Terceiro Segredo - embora fosse de uma personalidade muito seca e bastante indiferente á maioria das aparições -, exclamou com toda a ênfase: «Publiquem 10.000 exemplares! Publiquem 20.000 exemplares! Publiquem 30.000 exemplares!»18.
Depois, há também o testemunho do falecido Padre Malachi Martin, de que a mensagem de Garabandal (Espanha) contém o Terceiro Segredo ou alguns dos seus elementos. O Padre Martin - que era conhecedor do Terceiro Segredo porque ele próprio o tinha lido, e que lera também a mensagem de Garabandal - disse que fora devido à decisão do Vaticano de não divulgar o Terceiro Segredo em 1960 que Nossa Senhora tinha aparecido em Garabandal em 1961, a fim de O revelar. O que está na mensagem de Garabandal? Entre outras coisas, a mensagem de Garabandal diz: «muitos Cardeais, Bispos e Sacerdotes estão no caminho do Inferno, e “arrastam” consigo muitíssimas almas.» Repare-se mais uma vez na reiteração da ideia de arrastar almas para o Inferno. A mesma terminologia aparece no reparo da Irmã Lúcia ao Padre Fuentes: «O demónio sabe que os religiosos e os Sacerdotes que caem na sua bela vocação arrastam numerosas almas para o inferno»19; e na homilia do Papa, a 13 de Maio de 2000, que se refere à cena no Livro do Apocalipse na qual a cauda do dragão arrasta um terço das estrelas (almas consagradas) do Céu.
Enquanto as aparições de Garabandal não são formalmente aprovadas, o Bispo de Santander (que detém a jurisdição de Garabandal) disse que nada na mensagem era contrário à Fé Católica.
O ataque inclui tanto a má prática
como a má doutrina
Devemos aqui fazer notar que não é apenas por sustentar ou não sustentar a Fé verbalmente que se determina se um membro do Clero (ou do laicado) é bom ou nocivo. Para além da comparação do seu ensino - ou seja: das palavras de um Sacerdote, de um Bispo, de um Cardeal ou do Papa - com o ensino infalível do Magistério, é preciso ver se essa pessoa também professa a prática ortodoxa da Igreja Católica, quer pelas suas palavras (escritas e faladas) quer pelas suas acções e pela conduta cristã da sua vida. É preciso saber se acaso essa pessoa (Sacerdote, Bispo, Cardeal ou Papa) adere a alguma(s) heteropraxis - práticas contrárias à Fé -, tal como o desrespeito para com o Santíssimo Sacramento.
Ora a Fé pode ser atacada por acções, quer realizadas de uma maneira óbvia quer subtil. E as nossas acções têm de confirmar as nossas palavras. Assim, nós sustentamos a Fé se formos fiéis às doutrinas nos nossos pensamentos, palavras e escritos; e também se mantivermos as práticas piedosas da Igreja que alimentam a nossa Fé. Mas, se introduzirmos na nossa Paróquia (ou na Diocese ou Província eclesiástica local, ou mesmo na Igreja Universal, como alguns Doutores Católicos escreveram que poderia acontecer) práticas heterodoxas que dão a impressão de que a Fé definida não é digna de crédito, escandalizar-se-ão “os pequeninos” e até algumas almas eruditas, devido a essa(s) heteropraxis.
Por exemplo: sabemos pelas definições solenes do Concílio de Trento que Deus nos dá a certeza de que a Hóstia Consagrada é verdadeiramente a Presença Real de Nosso Senhor Jesus Cristo - isto é, o Seu Corpo, Sangue, Alma e Divindade. Ora os Protestantes rebeldes quiseram negar este artigo da Fé e, ainda, influenciar outros para que fizessem o mesmo. Foi assim que a prática da Comunhão na mão - inicialmente introduzida, como prática muito alargada, pelos hereges arianos do Século IV, em sinal da negação de que Nosso Senhor Jesus Cristo é Deus - foi re-introduzida. Por esta acção simbólica, a sua negação seria clara aos olhos de todos.
Nos nossos dias, os inimigos da Igreja têm usado da heteropraxis para escandalizar muitos Católicos e para lhes fazerem perder a Fé na Presença Real de Jesus Cristo [na Eucaristia]. Por essa razão é que a lei universal da Igreja proibiu a Comunhão na mão, como sendo um abuso, ao longo de muitos séculos - e continua ainda a proibi-la até hoje. O indulto recente [ou seja: a autorização] para ir contra a letra da lei é apenas permitido se esta prática não conduzir à diminuição da Fé na Presença Real, e se não conduzir a um menor respeito para com essa Presença Real de Cristo. Todavia, o resultado é sempre esse, como podemos ver pela nossa experiência diária com esta forma de heteropraxis20.
Por outro lado, às práticas que sustentam a doutrina ortodoxa da Igreja dá-se o nome de orthopraxis (isto é, práticas católicas ortodoxas) e incluem: genuflexão na presença do Santíssimo Sacramento, dar/receber a Comunhão na boca, conservar o tabernáculo com o Santíssimo Sacramento como o principal foco de atenção (e de adoração) e como o centro do santuário; o comportamento solene do Clero no interior do santuário, mostrando a devida reverência para com a Presença de Deus no Santíssimo Sacramento. Estes exemplos de orthopraxis (acções ortodoxas que mantêm a Fé) testemunham a verdade do dogma de que o Santíssimo Sacramento é a Presença Real de Deus - Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo, sob a aparência de pão - bem como o devido respeito do Homem para com Deus.
Exemplos de heteropraxis contra o dogma da Presença Real incluem (como já vimos) a Comunhão na mão. Esta forma de heteropraxis veicula aos Fiéis a mensagem errónea de que o Santíssimo Sacramento não é assim tão importante, visto que Ele é só pão, e promove a heresia de que Ele não é a Presença Real de Deus - Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo sob a aparência de pão. Outro exemplo de heteropraxis nesta área é afastar constantemente do santuário o tabernáculo com o Santíssimo Sacramento - colocando-O numa sala ao lado, ou então numa espécie de “armário de vassouras”, de modo que o foco principal de atenção (e de adoração) no santuário passa a ser a cadeira do “celebrante” ou “Presidente da assembleia”. A mensagem, subtilmente dada e recebida, é a de que a pessoa que se senta na cadeira é mais importante que o Santíssimo Sacramento. E uma vez que o “Presidente da assembleia” representa o povo, é subtilmente dada a mensagem de que Deus é menos importante do que o povo.
Estes exemplos fazem-nos lembrar de novo as palavras do Papa Pio XII, citadas mais acima:


Suponha, caro amigo, que o Comunismo [um dos “erros da Rússia” mencionados na Mensagem de Fátima] foi somente o mais visível dos instrumentos de subversão usados contra a Igreja e contra as tradições da Revelação Divina (...) As mensagens da Santíssima Virgem a Lúcia de Fátima preocupam-me. Esta persistência de Maria sobre os perigos que ameaçam a Igreja é um aviso do Céu contra o suicídio de alterar a Fé na Sua liturgia, na Sua teologia e na Sua alma . (…) Chegará um dia em que o Mundo civilizado negará o seu Deus, em que a Igreja duvidará como Pedro duvidou. Ela será tentada a acreditar que o homem se tornou Deus (…) Nas nossas igrejas, os Cristãos procurarão em vão a lamparina vermelha onde Deus os espera. Como Maria Madalena, chorando perante o túmulo vazio, perguntarão: “Para onde O levaram?”21


Das palavras do Papa Pio XII parece intuir-se que as formas de heteropraxis (acima mencionadas) contra o Santíssimo Sacramento eram explicitamente mencionadas no Terceiro Segredo de Fátima - porque, se é certo que o Papa Pio XII as relaciona com a Mensagem de Fátima, elas não são mencionadas em parte alguma da Mensagem que já foi publicada. Logo, têm de ser mencionadas no Terceiro Segredo - ou seja, na parte ainda não publicada. O Papa Pio XII diz claramente que é Nossa Senhora de Fátima Quem nos avisa contra «o suicídio de alterar a Fé na Sua liturgia, na Sua teologia e na Sua alma». Portanto, o Terceiro Segredo avisa-nos, tanto em relação à falsa doutrina como à heteropraxis, como sendo ataques contra «o dogma da Fé».
O ataque inclui a corrupção moral do Clero
que nós agora testemunhamos
Com a erupção pelo mundo inteiro - como vemos hoje - de um escândalo em massa envolvendo um comportamento sexual desviante de membros do Clero, surge uma terceira linha de ataque à Igreja neste tempo de grande crise: a corrupção moral de muitas almas consagradas. A cauda da dragão arrasta almas do Céu - caídas do seu estado consagrado - não só por meio da heterodoxia e da heteropraxis, mas também por meio da imoralidade. Lembremo-nos das declarações da Irmã Lúcia ao Padre Fuentes:


O demónio quer tomar posse das almas consagradas. Tenta corrompê-las para adormecer as almas dos leigos e desse modo conduzi-los à impenitência final.
O que aflige o Coração Imaculado de Maria e o Coração de Jesus é a queda das almas religiosas e sacerdotais. O demónio sabe que os religiosos e Sacerdotes que abandonam a sua bela vocação arrastam inúmeras almas para o inferno.


Hoje vemos que a corrupção alastra entre o Clero católico e que agora se manifesta, em escândalos sexuais de natureza indescritível, pelas dioceses da América do Norte, da Europa e da África. A cauda do dragão tem arrastado consigo muitos membros do Clero até às mais asquerosas espécies de imoralidade.
Daqui resulta que a credibilidade de muitos Sacerdotes que honram os seus votos e mantêm a Fé vai sendo destruída, juntamente com a própria credibilidade da Igreja como Instituição. Mesmo se há uma doutrina boa e boas práticas, os seus benefícios são frequentemente invalidados quando a corrupção moral mina a credibilidade da Igreja.
Quem é o responsável?
É agora que se ergue a pergunta: -Mas quem é identificado no Terceiro Segredo como sendo o responsável pela derrocada da Fé através da heterodoxia e da heteropraxis, da corrupção moral e da queda das almas consagradas? Em primeiro lugar, são os membros do próprio aparelho de estado do Vaticano. Fazemos notar mais uma vez a revelação do Cardeal Ciappi, o teólogo pontifício oficial do Papa João Paulo II, de que «No Terceiro Segredo é predito, entre outras coisas, que a grande apostasia na Igreja começará pelo cimo». Portanto, antes de mais nada, a responsabilidade recai sobre certos homens do Vaticano. Vemos nisto o cumprimento não só do Terceiro Segredo, mas também da advertência do Papa São Pio X na sua encíclica de 1907, Pascendi, onde escreve: «Os fautores do erro não devem hoje ser procurados entre os inimigos declarados; mas (...) no próprio seio e no coração da Igreja, inimigos tanto mais para temer quanto o são menos abertamente». Estes inimigos são leigos e Sacerdotes «impregnados, até à medula, de uma peçonha de erros bebida nos adversários da Fé», e que se apresentam «como renovadores da Igreja»22.
E São Pio X insiste:


«Inimigos da Igreja, certamente o são, e [podemos] dizer que ela os não tem piores (...) Não é de fora da Igreja, já se notou, é de dentro que eles tramam a sua ruína; o perigo está hoje quase nas próprias entranhas e nas veias da Igreja; os seus golpes são tanto mais certeiros, quanto melhor sabem onde feri-La23».
«Apoderam-se de cadeiras nos Seminários e nas Universidades, e transformam-nas em cátedras de pestilência24».
«É tempo de tirar a máscara a esses homens e de os mostrar à Igreja universal tais como são25».


Então perguntar-se-á: «-Como sabemos quem, de entre o Clero, faz parte do terço das estrelas a que se refere, indirectamente, o Papa João Paulo II? Como sabemos quem são os sequazes de erro?» E a resposta, uma vez mais, pode encontrar-se naquilo que foi definido infalivelmente: aqueles que sustentam a Fé, que se agarram com firmeza à doutrina de Jesus, são amigos (Apoc. 12:17); aqueles que não fazem isto são adversários. Como Nosso Senhor disse: «Pelos frutos os conhecereis» (Mt. 7:16). Pode saber-se quem é de confiança: quem professa a Fé Católica tal como é definida pelas definições solenes. Outro sinal será, também, o facto de viverem a sua Fé Católica.
Em conclusão, quando o Papa Paulo VI lamentava, em 1967, que «o fumo de Satanás entrou no Templo de Deus» e, em 1973, que «a abertura ao Mundo [se] tornou uma verdadeira invasão da Igreja pelo pensamento mundano», estava somente a confirmar o conteúdo do Terceiro Segredo; assim como o fez o Papa João Paulo II nas suas declarações, mais veladas, de 1982 e 2000. As duas primeiras partes do Grande Segredo de Fátima advertem sobre o facto de a Rússia espalhar os seus erros pelo mundo inteiro. O Terceiro Segredo, no seu conteúdo completo, é seguramente uma advertência de que aqueles erros se infiltrarão na própria Igreja, aí se implantando especialmente por meio da “abertura ao Mundo” pelo Vaticano II. A infiltração da Igreja Católica por elementos homossexuais, neo-modernistas, comunistas e maçons vê-se nos resultados ruinosos das suas actividades e na perda da Fé, mesmo entre os Católicos que frequentam a igreja.
Àqueles que troçam da afirmação de que foi este o desastre que se abateu sobre a Igreja do nosso tempo, só podemos dizer-lhes que estão cegos, e que têm vindo a desprezar a própria História da Igreja, que nos mostra que algo muito semelhante já aconteceu anteriormente: já aludimos à descrição que o Cardeal Newman fez do estado da Igreja durante a Heresia Ariana. Um extracto mais extenso dessa descrição - do seu livro On Consulting the Faithful in Matters of Doctrine - é suficiente para provar que o estado das coisas na Igreja de hoje tem aí os seus precedentes:


O corpo episcopal falhou na sua confissão da Fé. (...) Falavam segundo intenções diversas, um contra o outro. Depois de Niceia, não houve nada [que fosse] um testemunho consistente, invariável e firme, durante cerca de sessenta anos. Houve Concílios não fidedignos, Bispos sem Fé; houve, sim, fraqueza, medo das consequências, maus conselhos, ilusão, alucinação - que foi sem fim, sem esperança, estendendo-se a quase todos os recantos da Igreja Católica. Os relativamente poucos que permaneceram fiéis foram desacreditados e afastados para o exílio; os demais, ou vinham enganar ou vinham enganados26.


O que salienta o livro do Cardeal Newman é que foram os leigos, agarrando-se ao dogma definido da Fé em conjunto com alguns Bispos fiéis - como Santo Atanásio - que mantiveram a Fé viva durante a Crise Ariana. E assim acontece hoje.
Mas uma das grandes diferenças entre a Crise Ariana e a actual crise da Igreja é que a Santíssima Virgem Maria não só nos veio avisar a este respeito muitos anos antes da crise actual, como também nos deu os meios para a evitar - seguindo os Seus pedidos, feitos em Fátima. Ora, por terem privado a Igreja desta advertência contida no Terceiro Segredo de Fátima, por terem encoberto a profecia de uma apostasia que envolve, precisamente, os mesmos indivíduos que impuseram à Igreja uma nova orientação (que a arruinou e a deixou ser invadida pelo inimigo) e, consequentemente, por terem impedido os Fiéis de compreenderem a causa de tudo isto, impedindo-os de se defenderem dessa apostasia - oferecem-nos outro elemento-chave do grande e terrível crime aqui em debate.
Mas, apesar disso tudo, o encobrimento total não foi bem sucedido: a Mensagem de Fátima não foi sepultada; a desconfiança de que a chamada ‘divulgação’ do Terceiro Segredo não o foi, realmente, na sua totalidade vai-se alargando num crescendo. Ao verem isto, os membros do aparelho de estado do Vaticano (que já identificámos) fizeram ainda mais uma tentativa para a sepultarem a 17 de Novembro de 2001 - agravando, deste modo, o seu crime contra a Igreja e contra o Mundo. Consideraremos agora este desenvolvimento dos factos.

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