segunda-feira, 3 de março de 2014

O Carnaval e os cristãos: Quantos se perdem por não querer evitar as ocasiões de pecado

Disse Santo Afonso Maria de Ligório: (Doutor da Igreja) "Da obrigação de evitar as ocasiões perigosas". (como por exemplo o Carnaval) "Da obrigação de evitar as ocasiões perigosas - Um sem número de cristãos se perde por não querer evitar as ocasiões de pecado. Quantas almas lá no inferno não se lastimam e queixam: 'infeliz de mim! Se tivesse evitado aquela ocasião, não estaria agora condenado por toda a eternidade!'. Falando aqui da ocasião de pecado, temos em vista a ocasião próxima, pois deve-se distinguir entre ocasiões próximas e remotas. Ocasião remota é a que se nos depara em toda a parte e que raramente arrasta o homem ao pecado. Ocasião próxima é a que, por sua natureza, regularmente induz ao pecado. Por exemplo, se acharia em ocasião próxima um jovem que muitas vezes e sem necessidade se entretêm com pessoas levianas de outro sexo. Ocasião próxima para uma certa pessoa é também aquela que já a arrastou muitas vezes ao pecado (...). O Espírito Santo diz: 'Quem ama o perigo nele perecerá' (Eclo 3,27). Segundo Sto. Tomás, a razão disso é que Deus nos abandona no perigo quando a ele nos expomos deliberadamente ou dele não nos afastamos. S. Bernardino de Sena diz que dentre todos os conselhos de Jesus Cristo, o mais importante e como que a base de toda a religião, é aquele pelo qual nos recomenda a fuga da ocasião de pecado. (...) O demônio deseja que te entretenhas com a tentação, porque então torna-se-lhe fácil a vitória. Deves, porém, fugir sem demora, invocar os santos nomes de Jesus e Maria, sem prestar atenção, nem sequer por um instante, ao inimigo que te tenta. S. Pedro nos afirma que o demônio rodeia cada alma para ver se a pode tragar: 'Vosso adversário, o demônio, vos rodeia como um leão que ruge, procurando a quem devorar' (1Pd 5,8). S. Cipriano, explicando essas palavras, diz que o demônio espreita uma porta por onde possa entrar na alma; logo que se oferece uma ocasião perigosa, diz consigo mesmo: ‘eis a porta pela qual poderei entrar’, e imediatamente sugere a tentação. Se então a alma se mostrar indolente para fugir da tentação, cairá seguramente, em especial se se tratar de um pecado impuro. É a razão por que ao demônio mais desagradam os propósitos de fugirmos das ocasiões de pecado, que as promessas de nunca mais ofendermos a Deus, porque as ocasiões não evitadas tornam-se como uma faixa que nos venda os olhos para não vermos as verdades eternas, as formas das coisas santas e as promessas feitas a Deus. Quem estiver enredado em pecado contra a castidade, deverá, para o futuro, evitar não só a ocasião próxima, mas também a remota, enquanto possível, porque em tal se sentirá muito fraco para resistir. Não nos deixemos enganar pelo pretexto da ocasião ser necessária, como dizem os teólogos, e que por isso não estamos obrigados a evitá-la, pois Jesus Cristo disse: 'Se teu olho direito te escandaliza, arranca-o e lança-o de ti' (Mt 5, 29). Mesmo que seja teu olho direito deverás arrancá-lo e lançar fora de ti, para que não sejas condenado. Logo, deves fugir daquela ocasião, ainda que remota, já que, em razão de tua fraqueza, tornou-se ela uma ocasião próxima para ti. Antes de tudo devemos estar convencidos que nós, revestidos de carne, não podemos por própria força guardar a castidade; só Deus, em Sua imensa bondade, nos poderá dar força para tanto. É verdade que Deus atende a quem Lhe suplica, mas não poderá atender à oração daquele que conscientemente se expõe ao perigo e não o deixa, apesar de o conhecer, pois, como diz o Espírito Santo, quem ama o perigo perecerá nele (Eclo 3,27). Ó Deus, quantos cristãos existem que, apesar de levarem uma vida piedosa, caem finalmente e obstinam-se no pecado, só porque não querem evitar a ocasião próxima do pecado impuro. Por isso nos aconselha S. Paulo (Fil 2, 12): 'Com temor e tremor operai a vossa salvação'. Quem não teme e ousa expor-se às ocasiões perigosas, principalmente quando se trata do pecado impuro, dificilmente se salvará." (Compilação de textos do Santo Doutor pelo padre Saint-Omer, CSSR, 4ª edição, Ed. Vozes, Petrópolis: 1955, páginas 44-48) www.rainhamaria.com.br ======================== Santo Afonso Maria de Ligório: O pecador não quer obedecer a Deus -A saeculo confregisti iugum meum, rupisti vincula mea, et dixisti: non serviam ― «Quebraste desde o princípio o meu jugo, rompeste os meus laços, e disseste: não servirei» (Jer 2, 20). Sumário. Grande Deus! Todas as criaturas obedecem a Deus, como a seu supremo Senhor; os céus, a terra, o mar, os elementos obedecem-lhe de pronto ao menor sinal. E o homem, mais amado e privilegiado de Deus do que todas essas criaturas, não quer obedecer-lhe, e cada vez que peca, diz por suas obras com inaudita temeridade a Deus: Senhor, não Vos quero servir ― Confregisti iugum meum, dixisti: non serviam. Irmão meu, é isso o que tu também fizeste, se tiveste a desgraça de pecar. I. Grande Deus! Todas as criaturas obedecem a Deus como ao seu soberano Senhor; os céus, a terra, o mar, os elementos obedecem-lhe de pronto ao menor sinal. E o homem, mais amado e privilegiado de Deus do que todas essas criaturas, não lhe quer obedecer, e cada vez que peca, diz, por suas obras, com inaudita temeridade a Deus: Senhor, não Vos quero servir. Confregisti iugum meum, dixisti: non serviam ― «Quebraste o meu jugo e disseste: não servirei». O Senhor lhe diz: não te vingues, e o homem responde: quero vingar-me; ― não te aposses dos bens alheios: quero apossar-me deles; ― abstém-te desse prazer desonesto: não quero abster-me. O pecador fala a Deus do mesmo modo que Faraó, quando Moisés lhe levou da parte de Deus a ordem de restituir o seu povo à liberdade. Aquele temerário respondeu: Quem é esse Senhor, para que eu ouça a sua voz? Não conheço o Senhor (Ex. 5, 2). O pecador diz a mesma coisa: Senhor, não Vos conheço, quero fazer o que me agrada. Numa palavra, ultraja-o face a face, e volta-lhe as costas. No dizer de Santo Tomás, é isso exatamente o pecado mortal: o voltar as costas a Deus, o Bem incomutável. É disso também de que o Senhor se queixa: Tu reliquiesti me, dicit Dominus; retrorsum abiisti (III Re 12, 28). Foste ingrato, assim fala Deus, porque me abandonaste ao passo que eu nunca te teria abandonado: retrorsum abiisti, voltaste-me as costas. Deus declarou que odeia o pecado; portanto não pode deixar de odiar igualmente a quem o comete. E o homem, quando peca, ousa declarar-se inimigo de Deus e resiste-lhe na face: Contra Omnipotentem roboratus est ― «ele se fez forte contra o Todo-poderoso», diz Jó (Jó 15, 25). O mesmo santo varão acrescenta que levanta o colo: isto é o orgulho, e corre para insultar a Deus: arma-se com uma testa dura, isto é, com ignorância, e diz: Quid feci? Que é que fiz? Onde está o grande mal que fiz pecando? Deus é misericordioso; perdoa aos pecadores. Que injúria! que temeridade! que insensatez! II. Irmão meu, se nós também no passado quebramos o jugo suave do Senhor, e recusando-lhe a obediência tornamo-nos escravos do demônio, peçamos agora, humilhados e contritos, o perdão de nossos pecados; esforcemo-nos, com o nosso arrependimento, e com os nossos obséquios, em reparar um pouco as muitas ofensas que, particularmente nestes dias de carnaval, são feitas a nosso Pai celestial. Eis aqui a vossos pés, meu Deus, o rebelde, o temerário, que tantas vezes teve a audácia de Vos injuriar no rosto e de Vos voltar as costas, mas que agora Vos pede misericórdia. Vós dissestes: Clama ad me, et axaudiam te (Jer 33, 3) ― «Clama a mim e eu te atenderei». Um inferno ainda é pouco para mim: confesso-o; mas sabeis que tenho mais dor por Vos haver ofendido, ó Bondade infinita, do que se houvesse perdido todos os meus bens e a vida. Ah! meu Senhor; perdoai-me e não permitais que Vos torne a ofender. Vós por mim esperastes, a fim de que bendiga para sempre a vossa misericórdia, e Vos ame. Sim, bendigo-Vos, amo-Vos e espero pelos merecimentos de Jesus Cristo, nunca mais separar-me do vosso amor. Foi o vosso amor que me livrou do inferno, esse mesmo amor deve livrar-me do pecado no futuro. Agradeço-Vos, meu Senhor, estas luzes e o desejo que me inspirais de sempre Vos amar. Peço-Vos que tomeis plena posse de mim, de minha alma, de meu corpo, das minhas faculdades, dos meus sentidos, de minha vontade e da minha liberdade: Tuus sum ego, salvum me fac (Sl 118, 94) ― «Eu sou vosso; salvai-me». Vós que sois o único bem, o único amável, sede também o meu único amor. Dai-me fervor em Vos amar. Já Vos ofendi muito; portanto não me posso contentar com amar-Vos simplesmente; quero amar-Vos muito para compensar as injúrias que Vos fiz. De Vós espero esta graça porque sois todo-poderoso; espero-a também, ó Maria, das vossas orações, que são todo-poderosas para com Deus. (*II 68.) Pieter Boel, Vanitas, 1663. "Vanitas vanitatum omnia vanitas" (Ecl, 1, 2) Santo Afonso Maria de Ligório. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo Primeiro: Desde o primeiro Domingo do Advento até Semana Santa inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 252-254. www.rainhamaria.com.br

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